Estou podando meu jardim

Depois de muito dedo apontado na cara, termina que a gente sente a necessidade de se proteger. Existem diferentes formas de reação e, como cada pessoa é um mundo, isso é absolutamente normal. Eu, de um modo particular, acho que me fechei parcialmente. Meu processo se deu mais não em não me relacionar com o mundo, mas em me relacionar comigo mesma de uma forma diferente, para amortecer as eventuais pancadas que o mundo pudesse me dar. Pois bem, peguei os medos, receios, encanações e me escondi atrás de todos eles.
Tenho o sol em Virgem. Por muito tempo isso não significou muita coisa para mim, católica carola de nascença, e ainda mais que pouco - para não dizer nada -  se identificava com as descrições de personalidade dos nativos do meu signo. É possível que eu seja a virginiana menos virginiana do mundo. Porém, depois de alguns anos de vida e autoconhecimento, percebi que sou virginiana da gema pelo menos em um aspecto: o perfeccionismo. Mas esta é uma característica que não vem sozinha, não. A autocrítica vem ali, grudada com ele, que ninguém separa. A autocrítica e otras cositas más. Eu tinha a faca e o queijo na mão para construir meu super escudo contra a maldade alheia. Era só cortar.
O problema é que isso envolvia me cortar. Me auto julgar, criticar, boicotar, culpabilizar... O que quer de negativo que se pudesse pensar a meu respeito, eu tratava de pensar e cristalizar na minha mente antes. Assim, o veredito dos outros não me poderia atingir. Eu me protegia atingindo a mim mesma de antemão, só para garantir. Foi atrás da autocrítica exacerbada e, logo depois dela uma camada de pessimismo, que me escondi. Se alguém me apontasse o dedo, eu já havia feito isso antes. Se alguma coisa desse errado, tudo bem, eu já estaria mesmo contando com isso. O eventual dar certo é que surpreenderia.
Isso não é uma coisa legal de se fazer, e muito menos uma posição saudável de se colocar nela. Pensar que nada vai dar certo nos paralisa diante dos nossos projetos e sonhos, além de colocar uma nuvem de negatividade sobre as nossas cabeças. Levar um tapa da gente mesmo dói menos que levá-lo de uma outra pessoa ou situação, mas a longo prazo, a coisa não fica assim para sempre. Podemos ser muito severos conosco quando adquirimos e cultivamos essa habilidade. Eu segui desenvolvendo a minha, até que percebi que não valia a pena. Porque no fim tudo isso ainda é em nome de uma aprovação de terceiros para ser e viver como se quer. Aí quando a aprovação dos outros não vem, não faz mal, porque a gente já reprovou a si mesmo. Só que desse jeito, vive-se sempre à sombra, à margem do que podemos ser e conquistar. E tudo por escolha própria, quando na verdade podemos ser mais e melhores.
Que os outros sigam sendo os outros e que nós não permitamos que as suas opiniões cruzem a fronteira do nosso ser, nos invadam e nos pautem. Não é ser uma ilha, mas saber o que de mim cabe só a mim e o que os outros podem tocar. E tocar é diferente de moldar. Perceba. É um processo, uma construção e, principalmente, uma caminhada na qual o primeiro passo é decidir.
Se autoestimar não é se proteger, mas sim não ter medo daquilo que nós é que decidimos se nos atinge ou não. Os outros nos machucam na medida em que permitimos. O julgamento alheio tem a importância que damos a ele. Há que se podar o próprio jardim e arrancar pela raiz as ervas daninhas que, muitas vezes, cultivamos sem saber.

♫ Meu Jardim - Vander Lee

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