Questão de ser... E saber!


A felicidade é objeto de desejo de dez em cada dez seres viventes. Há quem gaste parcelas consideráveis de tempo buscando uma fórmula para se chegar até ela. Eu endosso o cordão dos que acreditam que ela está ali, efêmera, camuflada, quase imperceptível, nas pequenas coisas. E depois que passa o momento, ela foge - espoleta que é - para se depositar em outro canto, outro momento, outra experiência. De tão ligeira, ela tem o poder da polilocação: está em vários lugares ao mesmo tempo. E é aí que a gente se confunde, fica de olho nas grandes coisas, nos grandes acontecimentos, esperando a felicidade pintar. 
De repente, se fica esperando a formatura, o emprego, a estabilidade emocional e financeira, o grande amor, o carro, o par de filhos, a casa própria, e tantas outras coisas, para se começar a ser feliz. Mas na realidade, quando somos felizes, o somos "apesar de". As pedras e os atropelos da vida - que existem para todo mundo, sem nenhuma exceção - não são capazes de cegar uma pessoa feliz de verdade, por exemplo, para as pequenas alegrias da vida. Quem é feliz, o é nas mínimas coisas: no cheiro da chuva e da flor preferida, naquela mensagem que alguém querido manda quando lembra da gente, no sonho que se tem à noite que faz a gente abrir os olhos rindo bobo pela manhã, num abraço, num telefonema, numa gentileza, numa canção. A felicidade se mostra genuína nas coisas pequenas, para aqueles que podem senti-la. E pode sentir aquele que decide fazê-lo. 
Se por um lado tem gente que perde de vista as alegrias do agora enquanto olha lá para frente, tem quem as perca também, só que olhando para trás. O bom e velho "eu era feliz e não sabia" que, se você não disse pelo menos uma vez, ainda dirá. Parei dia desses para refletir sobre essa expressão e sua presença na vida das pessoas, a começar pela minha própria. Trocando ideia com um amigo dos tempos de colégio, cheguei à conclusão que a minha melhor época, até agora, foi o período da faculdade. Já meu amigo disse estar atualmente no melhor momento da vida dele. Por um segundo, senti uma ponta de inveja.
A melhor coisa possivelmente é a gente ser feliz e saber. Assim: estar numa fase maravilhosa e saber ser esta uma fase maravilhosa. Eu me diverti muito na minha vida universitária, aprendi muita coisa - mais sobre a vida do que sobre o meio acadêmico, até -, fiz amizades que levei comigo, cresci, amadureci, me tornei uma pessoa melhor. Mas o quanto não diminuí o brilho de todas essas experiências, enquanto resmungava que estava cansada, que não aguentava mais as provas, os trabalhos, os estágios, a rotina... ? Eu era extremamente feliz e até sabia, só não me dava conta do quanto, naquele momento, minha felicidade estava relacionada a coisas que eu tinha naquela época e não as teria depois. Quantas pequenas alegrias eu não deixei passar, esperando do fundo do coração que aquela fase fosse concluída logo, porque estava focada só no lado ruim? 
Cada momento de nossas vidas tem a felicidade que lhe cabe. Precisamos estar atentos (e fortes!), e isso é um exercício diário. Por pior que a coisa esteja, sempre temos pelo que ser gratos. E se há pelo que agradecer, há pelo que sorrir, nem que seja com o cantinho da boca, mesmo num dia ruim. Dá para ser feliz. Dá para saber-se feliz. É só abraçar a vida... E crer.


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