Onde eu possa ficar do tamanho da paz


Não era espaçosa, mas suficiente. Cabia tudo que eu precisava. Do tamanho ideal, pau a pique e sapê. Um sofá cinza com almofadas estampadas, um puff laranja, flores rosas de madeira na mesa de centro. Porta-retratos com molduras coloridas, exibindo fotos cheias dos sorrisos mais sinceros. Trechos de algumas das músicas preferidas espalhados por onde dava. Uma Elis Regina desenhada, colorida, sorrindo e cantando pendurada na parede. Num canto, uma mesinha redonda de vidro, com quatro cadeiras amarelas, para as refeições. Na estante, TV e CDs (assim, bem retrô), vigiados por uma imagem de Nossa Senhora de Guadalupe e outra de Santa Teresinha do Menino Jesus. Atrás da porta de entrada, um crucifixo, como na casa da minha mãe. 
Na varandinha, uma rede e algumas plantas (dentre elas, duas mini roseiras). Não tinha uma grande vista que desse para o mar ou algo assim, mas soprava uma brisa boa e, aos finais de tarde, o degradê do céu inspirava sempre um poema ou dois. Não dava para os carneiros e cabras, mas rocks rurais e urbanos nasciam vez em quando por ali. E sambas. E outras coisas.
No quarto, adesivos de parede inspiradores, uma escrivaninha com computador e alguns livros. Uma cama larga, acompanhada por uma mesinha de cabeceira portando uma luminária artesanal e o livro da vez. Na janela, uma cortina que deixava um pouco da luz externa entrar, fazendo penumbra. Nada de blackout. Nunca gostei de escuro total.
Era mais ou menos assim. Simples, mas cheia de detalhes. Pequena, mas na medida. Impressões minhas, por toda parte. Meu eu feito casa. A versão casa de mim, para eu poder chamar de lar. Meu lar. E meu mais no sentido de pertença do que de posse. A casa tinha mais a mim do que eu a ela. 
Era sonho. Mas acordei desejando aquele lugar. Onde os filhos que viessem - se viessem - tivessem já no ambiente motivos para ter a cuca legal. Onde a minha própria cuca pudesse ser muito mais legal. Onde eu pudesse ficar do tamanho da paz e, assim, plantasse meus amigos, meus discos e livros... E nada mais.

Comentários

  1. Que linnnndo! ♥ Tô encantada com os textos do seu blog. Não li todos, mas de alguns notei que são muito delicados e sensíveis. Fico mto feliz quando encontro gente que escreve assim, se expressa de forma tão intensa que não há dúvidas que vem tudo da alma. Já salvei o endereço e voltarei sempre.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada pelas palavras, Rona!! Volte sempre, sim! Fique à vontade, que a casa é sua! Beijo :)

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas