Que(re)nte

@jogueiareguafora

Ela queria sentir, quando entrou no bar e sentou-se ao balcão. Cinco minutos depois, tinha um coquetel de sentimentos nas mãos, pronto para ser sorvido. A garganta seca implorava, mas ela sabia que ao primeiro gole não haveria mais volta. Um gole, e teria que beber todo o resto. Embriagar-se completamente e deixar a cabeça girar. Ela queria demasiado e Deus era testemunha. Ela mesma também era testemunha de si. Tinha ânsias indissolutas. Mas sabia que uma vez dado o primeiro gole, teria que beber até o fim. E depois do fim, havia a ressaca iminente. E essa é uma coisa que atormenta e dói. Ela não queria mais ter que se doer.
Mas, por outro lado, havia dentro dela a tal amplidão. Eram vários os espaços vazios, mas todos limpos, arrumados, aconchegantes e de paredes bem pintadas. Livres de quinquilharias. Ela arrumou tudo dentro de si e estava toda pronta. Finalmente percebeu isso. Havia se livrado de todos os pesos, todas as tristezas e mágoas que corroíam - como traças - suas vestes de plenitude interior. Estava pronta para ser preenchida outra vez. E agora tinha que ser diferente.
Ela estava pronta. Queria sentir. Tinha o coquetel nas mãos. O copo começava a suar, as gotas escorrendo por entre seus dedos longos. A bebida estava esquentando e ela sem beber. Ela estava esquentando. E sem beber. Os espaços vazios faziam eco. A garganta continuava implorando. Deus, como ela queria. Mas antes de beber, há que se brindar. E brinde não é coisa que se faça só. Então, mesmo que(re)nte, ela espera, sentada ao balcão do bar, que o amor venha lhe fazer companhia.

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