Era uma coisa sua que ficou em mim

@jogueiareguafora
Viver com saudade é das missões mais doloridas que existem. Não, não é fácil. Sobretudo se ela vem de uma ausência permanente. Aí dói todo dia e nunca vai acabar. Quando a gente pensa que conhece todas as suas modalidades de tortura e tipos de dores pontiagudas e que dessa forma a alma se habitua, a saudade dá uma risadinha sarcástica e aperta de uma maneira inédita. E dor nunca antes sentida costuma doer muito mais. Porque além de doer, assusta.
Eu tenho uma grande saudade que vai me acompanhar para sempre. Mainha. Lá se vão oito anos. Às vezes, parece uma eternidade, com tanta coisa que mudou nesse meio tempo. Em outras horas, parece que foi ontem que ela partiu. Porque se eu fecho os olhos, lembro tão bem de quando ela estava aqui, tão detalhadamente, que se por um segundo eu repetir que ela estava aqui até ontem, é capaz da minha mente acreditar.
Por muito tempo eu me achei muito bem resolvida com meu luto. Na época, doeu como nada havia doído antes, mas eu pude tomar meu tempo. Aos trancos e barrancos, me pus de pé e, depois de muito esforço, consegui que as lembranças dos bons momentos ao lado dela e das lições que ela havia deixado fossem maiores que a dor e todo o trauma da separação física. Eu adquiri a capacidade de percebê-la comigo de outras formas que não fisicamente. Me senti plena assim. Mas aí vieram os dilemas da vida adulta e a ausência dela pesou mais. Lá estava a saudade reinventando seu jeito de me machucar.
Foi então que percebi que já que a minha saudade não é uma questão de escolha, eu teria que procurar conviver com ela da melhor forma. E essa maneira seria reinventar o meu olhar, a cada vez que a saudade se reinventasse ela própria. A última reinvenção que fiz, considero bastante significativa. Percebi que sempre vai doer, de um jeito ou de outro. Às vezes menos, às vezes mais. Mas sempre vai haver algo incomodando. A menos que eu aceite. Debater-se é pior. Sempre vai doer. Então, abraço a dor que a saudade me inflige.
Esfreguei bem os olhos e encarei bem minha saudade, que nunca vai se separar de mim. O que vi - pasmem! - foi um rosto gentil. A dor - me disse ela, mesmo sem palavras - não é por mal. A dor não tem outro propósito que não provar que valeu, tudo que veio antes. Validação de uma vida inteira. Se a saudade dói, é porque tudo valeu a pena e foi real e bom. A saudade nada mais é que um mecanismo do amor, percebi. Mecanismo "que é escuro e frio, mas também bonito. Porque é iluminado pela beleza do que aconteceu há minutos atrás."

♫ Ney Matogrosso - Poema

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