Quem sabe isso quer dizer amor...?

@jogueiareguafora

Coisa engraçada essa a que chamam de amor. Dia desses eu li por aí que amor se reconhece de cara, que nunca parece ser outro sentimento além dele mesmo. Amor sempre parece ser amor e por isso, quando de fato o é, a gente sabe de pronto. Não preciso nem pensar muito para discordar dessa teoria. Eu mesma soube tantas vezes. E por tantas estive equivocada. Não sei ao certo se o amor pode parecer outras coisas. Contesto mais o imediatismo que a tese propõe do que o seu conceito vital. Não sei se ele pode parecer outras coisas, mas sei que ele nunca pode parecer ele mesmo num piscar de olhos ou estalar de dedos. Porque ele nem se faz tão rápido assim. Amor leva tempo para ser e para mostrar-se.
Perigosas mesmo são as coisas que parecem ser amor. A paixão é a rainha delas. Queima o peito, gela o estômago, decola o pensamento, faz suar as mãos. Mas não é amor. Engana que é uma beleza, se a gente se deixa levar. E se deixar levar por ela é a coisa mais fácil que tem, porque é uma delícia. Só é perigoso. Ela costuma caminhar nos campos da ilusão e às vezes desanda ou leva rasteira e esfola a gente junto com ela. Mas é importante saber que a paixão não é a vilã dessa história. Afinal de contas, apesar de meio descompensada, é ela que cria a oportunidade do coração ser fecundado. E é aí que o amor começa a acontecer. Um processo.
Amor é gestado. Depois da fecundação, o coração começa a se expandir porque já não bate mais só. Tem algo dentro dele ocupando espaço e requisitando cada vez mais. Às vezes a gente percebe e tenta ignorar. Até consegue, por um tempo. Mas aí vêm as dores do parto e já não é mais possível fingir. O amor nasce. Ele vem nos rasgando por dentro e toma nosso corpo inteiro. O coração fica lá sangrando, todo doído, mas tomado por uma felicidade lascada ao olhar sua cria. É o que penso que seja plenitude.
E então o amor nos preenche e aí sim se mostra como é, parecido com ele mesmo e com nenhuma outra coisa. Amor é quase tão gente quanto a gente: nasce fazendo escândalo, bagunça tudo e tem vontade própria. Mas o amor serena a gente também. O amor faz a gente melhor, mais generoso, mais compreensivo, mais dedicado, mais delicado, mais feliz. Amor é complexidade e amplidão.
Coisa engraçada essa a que chamam de amor, que eu não sei se parece com outras coisas. Mas sei que demora. E que vale a pena.

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