Desfilar a vida, carnavalizar

@jogueiareguafora

Tentou, só por aqueles dias, não agonizar. Tentou não se entristecer, pelo menos dentro daquele período em que o mundo parece converter-se todo em festa, e brilho, e cor. No peito o coração continuava latejando, ao invés de bater, mas pediu emprestado o compasso dos tambores para simular pulsação. Para fingir que estava viva corporal, sentimental, emocionalmente. Não estava. Mas, pelo menos por aquele dias, vestiu a sua fantasia de feliz.
Pensava em que outra folia estaria o dono do seu samba-enredo e da sua aflição. Nem precisou pintar no rosto as lágrimas de Pierrot. Desciam-lhe do olho, seguiam numa estrada pelas faces e já estavam lá, prontas. Mas entre os lábios, havia um sorriso semi-sincero. Porque era carnaval. Porque havia glitter e estrelas nos olhos. Porque havia gente nas ruas e festas sem fim, mesmo que ela estivesse em casa. Porque a alegria não convidava, intimava. E ainda estava vivo o algo nela que via um quê de encanto naquela movimentação. Mesmo que a dinâmica dos blocos carnavalescos a lembrassem um pouco o amor perdido. Porque o bloco vem, espalha a felicidade pelas veias das gentes, depois segue seu rumo até sumir... Deixando desencanto em forma de confete e serpentina no chão. Naquele momento, no carnaval e na vida, ela tentava focar apenas nos sorrisos. E que se danassem os confetes caídos.
Observar o frevo no mundo acendia nela uma chama vital. Para seguir com a vida. Para abraçar o ano que, afinal de contas, só começa de verdade depois que o carnaval lhe abre alas.

♫ Alceu Valença - Madeira do Rosarinho



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