Pra me reconhecer de volta

@jogueiareguafora

Como é de se esperar ao final de toda história de amor que se preze, eu precisei parar, mergulhar nos meus próprios flashbacks e me questionar infinitamente em que ponto exato o desencanto aconteceu. É fato que o amei muito e quando o escolhi foi com os olhos absolutamente apaixonados de uma menina que tanto esperava o amor e tanto queria dele. Meu grande amor de adolescência. Sempre dei esse título a um garoto meio bobo que estudava na sala ao lado nos tempos de escola. Hoje sei que havia em mim, àquela época, uma paixão maior. Um frisson muito mais merecedor desse posto, porque foi ele que permeou a formação da pessoa que me tornei mais tarde. O Jornalismo. A profissão que escolhi aos 13 e, agora aos 25, escolhi deixar.
Birras e revoltas (que começaram ainda na vida acadêmica) à parte, fui feliz. Tive meus momentos de calor no coração e de pensar "é isso que eu quero para mim!". Em todas as minhas alegrias, havia uma pitada de arte. Cheguei a me emocionar com algumas pautas onde a cultura tocava vidas e as transformava. Ser testemunha de histórias assim e poder passá-las adiante era compensador. Justificava minha escolha e fazia valer todas as penas, uma por uma. Meu flerte absoluto sempre foi com o Jornalismo Cultural, no entanto, fora dos muros da universidade me vi distanciada dele. Fui aonde a maré - que não está para peixe - me levou. Caí, como a maioria, no ramo da assessoria de imprensa e depois me vi social media por necessidade.
Sabe como é... A profissão tem que se adequar à remodelação do mercado, não é mesmo? Não. Não é mesmo. Pelo menos não para mim. Nem para o amor que um dia me bateu no peito. É bem verdade que me rebelei. Quem me conhece, sabe. Ainda nem tinha me formado e já tinha percebido que as flores não iriam longe. Era o mar de rosas sob a ameaça de virar sertão. O sacrifício começou a não valer. Como resposta, veio a minha irritação. Todo amor grande demais vira raiva quando frustrado. Algo em mim se deu conta de que cedo ou tarde, o Jornalismo e eu acabaríamos nos separando, porque eu não encontraria ao lado dele o que tinha em mente quando obstinei-me em minha escolha.
Optei pelo Jornalismo porque gostava de escrever. Era a justificativa única que eu dava ainda no colégio e mesmo depois. Era a forma como eu explicava a minha escolha até um dia desses, na verdade. Mas num clique, percebi que foi o gosto pela escrita que me levou à comunicação, mas não só. Me dei conta disso quando vi que mesmo trabalhando escrevendo, eu não era feliz. A que se destina as palavras conta e muito. Eu quis ser jornalista porque gostava de escrever e gostava de gente. Quando escolhi ser jornalista, era para ouvir histórias e recontá-las, não para vender coisas.
Estou, então, recalculando a minha rota. Fim de relacionamento é dureza. Deixar um grande amor, ainda que já em desgaste, pode ser bem dolorido. Acho que por isso pensei tanto, ponderei tanto antes de decidir partir. Demorei mais ainda antes de decidir para onde. E aí, num conjunto de de repentes, fui. Estou indo. Não sei ainda se é o caminho certo, mas estou disposta a descobrir. Tento resistir ao impulso de olhar para trás. Ao meu ex-amor, meu peito cheio de gratidão pelos horizontes alargados e por toda lição. Nós fomos lindos juntos, de alguma forma.

♫ Anavitória - Agora Eu Quero Ir

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