Eu ando tão triste, eu ando pela sala

@jogueiareguafora


Um dia, fiquei triste. E vários dias de tristeza vieram depois. E junto com eles, várias doses generosas de inconformação. Eu achava banal o motivo da minha tristeza. Achava descabido me encontrar naquele estado e julgava a mim mesma por isso. E então, ficava ainda mais triste. Me debatia um pouco. Me preocupava que as pessoas fossem me achar fraca e, pior ainda, boba. Eu mesma me achava assim naquele momento. E então, me condenava. Só que tristeza não é coisa que se escolha. É ela que nos escolhe e sempre há nela um motivo oculto. Não aquilo que nos entristeceu, mas o que vem depois. O propósito de todas as coisas.
Naqueles dias esquisitos, pessoas tentavam me motivar. Eu mesma tentava. Havia sempre um sorriso aqui, outro acolá. Mas não tinha jeito. Em essência, eu estava triste. E precisava viver minha tristeza, ao invés de tentar ignorá-la. Estava triste e nada podia ser feito a respeito, a não ser abraçar meu atual estado de espírito e deixar a dor fazer o que nasceu para fazer de melhor: doer. Eu não conseguia me classificar como outra coisa que não triste e precisei aceitar isso.
Foram dias em que falei muito pouco. Em se tratando de mim, isso era negativamente sintomático. Os amigos mais chegados, com quem costumava passar dias inteiros trocando mensagens, eu passava tempos sem procurar. Isso porque sabia que andava chata. Minhas conversas todas eram variações de um mesmo insuportável tema e seria assim até que eu estivesse alegre outra vez. Não queria incomodar ninguém com isso. Que passasse, que eu voltasse a ser eu e aí sim voltaria à minha programação normal.
Também não andava me divertindo. Nunca precisei de muito para me divertir, é bem verdade. Mas até do meu habitual pouco eu andava abdicando. Não era drama, nem nada assim. Só falta de vontade mesmo. Livros, filmes, seriados... Mesmo os meus preferidos, não me chamavam atenção. A única coisa que não se ausentava era a música. Mas mesmo os sons eram bem específicos. Eram a trilha da minha falta de alegria, para ouvir e chorar, e não para levantar o meu astral.
Fora os sons, havia ainda mais uma coisa: as palavras. Não faladas, escritas. Naqueles dias ocos eu andava escrevendo como louca. Era como se só escrever pudesse me salvar de mim. Era vomitando letras que eu me desintoxicava e buscava cura para a minha infecção emocional. Tive até febre. Assim, do nada e sem razão aparente. Debitei na conta da tristeza. Afinal, melancolia deixa a imunidade baixa, dizem.
Escrevo no passado por saber que esse texto só vai ser lido num tempo futuro, onde - espero! - minha tristeza já terá encontrado seus fins, no plural. Ambos os fins. Primeiro, o encerramento. Depois, a finalidade. Pois acredito nos porquês. Os ossos doem quando crescem. A alma também dói para se expandir. Por isso hoje estou triste. Para amanhã ser maior.

♫ Adriana Calcanhotto - Metade




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