Às vezes te odeio por quase um segundo

SOS a uma pessoa impedida de viver em sociedade. Por ela própria. Pelos próprios impulsos emocionais sem sentido sequer que a razão possa encontrar. Eu. Eu mesma. Cercada de vazio por todos os lados. Não há lugar em que não haja algo que eu odeie.
Odeio casais. Odeio shoppings, estacionamentos. Odeio cinemas, que eu costumava amar. Odeio os bares da minha rua. Odeio o portão do meu prédio e a calçada na frente dele. Odeio as escadas do meu prédio. Odeio carros vermelhos em geral. Odeio homens de roupa social e barba. Odeio aquela música do Lulu Santos. Odeio a cidade do interior onde eu passava as férias quando era criança. Odeio teatros. Odeio beira de rio, semáforos, flanelinhas. Odeio filme nacional e odeio o Vander Lee. Odeio roda de conversa com os amigos, porque o assunto sempre termina em sexo e flerte. Odeio meus seios, umbigo e pescoço. Odeio minhas mãos e boca. Odeio meu cabelo e o cheiro do meu xampu. Odeio minha coleção de brincos sem par. Odeio meu perfume favorito. Meu vestido favorito, idem. Odeio meu celular e o sofá de casa.  Odeio filmes inteligentes. Odeio redes sociais. Odeio Adam Levine e o Rock in Rio. Odeio bolo de maracujá e cuscuz paulista. Odeio o maldito aplicativo que me manda tomar água de hora em hora. Odeio tequila, sem nunca nem ter provado.
Eu passei a odiar tanta coisa, só porque não consegui te odiar. Eu odeio todos os cantos por onde você passou em mim e tudo que estava ao nosso redor naqueles tempos. Odeio as coisas que de mim você mais gostava. Porque elas conseguiram te atrair, mas não puderam te segurar. As odeio mesmo sabendo que é doentio e eu não teria o direito de te prender, porque te prender negaria tudo que um dia eu aprendi sobre o amor ser livre. E eu queria que tivesse sido amor. Que tivesse chegado lá. Era para lá que eu estava indo, mas acho que caminhei sozinha. Agora parei no meio da estrada, sentei no acostamento e comecei a odiar tudo que me lembra você. Porque lembrar de você é não esquecer a sua escolha de não ficar.

♫ Cazuza - Quase Um Segundo (Comp. Herbert Viana)

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