Quando entrar setembro

Lettering por @jogueiareguafora
A protagonista estava visivelmente exausta. Os vilões pareciam sempre levar a melhor. Sempre. A história tinha se tornado meio chata, sem sentido. O enredo estava embaralhado e não dava sinais de que pudesse se desenrolar de alguma maneira razoável. A apatia feriu gravemente minha curiosidade pela cena seguinte.
E se eu desisto do livro agora? Se fecho ele com força, me perco da página na qual estou, jogo aquele amontoado de papel numa fogueira? Não mais história, não mais próximo capítulo. Nada a desvendar. Nada a descobrir. Nada para se ganhar. E ao contrário do que possa parecer à minha mente cansada, um mundo para perder. Ter sempre uma próxima página é possuir a dádiva da possibilidade.
Se desisto do livro agora, nunca vou saber das vitórias e dos pequenos finais felizes transitórios que toda história costuma ter. Porque “para sempre” é tempo demais. Tudo costuma passar. E sempre vêm novas alegrias, novas agonias… O novo, não importa de onde e com que propósito, sempre vem. E se desisto do livro, me privo de conhecê-lo e nego, de antemão, o bem que ele pode me fazer, mesmo que eu não entenda na hora. Me privo do que há para ler nesta história. E me privo também das páginas em branco nas quais eu posso escrever, dar minha contribuição, deixar a minha marca. Leitora-autora. Voz ativa de mim mesma.
Entre as coisas que perco, vão também os risos sinceros de capítulos passados e todas as lições contidas nas entrelinhas. Tudo parece miúdo e pouco importante agora, porque minha vista está embaçada pela dor e pelo cansaço. Respirando fundo e olhando bem para trás, fui feliz com este livro e, nas passagens em que não pude sê-lo, ao menos fui aprendiz. Nada é por acaso nem em vão. Se até aqui valeu a leitura, devo créditos ao que está por vir.
Se tenho em minhas mãos este livro, o mereço e tenho em mim a força necessária para fazê-lo significativo, mesmo que em alguns momentos tenha dificuldade de acreditar nisso. O poder de decisão é absoluto. É bem verdade que existem outras histórias entrelaçadas às nossas e muitas vezes acontecem coisas que fogem a este nosso poder. Ainda assim, posso decidir o que fazer com o acontecido e diante dele. Continuo sendo eu que decido sobre a influência que a adversidade tem sobre mim e o que ela pode me ensinar. Posso escolher como reescrever e reinventar a minha própria história. Mas para isso, preciso ter sempre uma próxima página. Eu acredito nas surpresas da página seguinte. E se não houver surpresas, eu mesma posso criá-las.

- Setembro é o mês da campanha de prevenção do suicídio, Setembro Amarelo.

♫ Pitty - Pulsos

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