Cê não me devia maldizer assim

Lettering por @jogueiareguafora
Não, se apaixonar não é a pior coisa do mundo. Como poderia ser ruim algo que abre caminhos para o amor? A paixão é inocente. Não tem culpa dos desencontros, dos desenlaces, nem dos tropeços da vida. O que acontece depois não é de sua responsabilidade. E além do mais, não se apaixonar é que deve ser a pior coisa do mundo.
A questão é tudo que a gente deixa de levar em conta quando está diante dos finais, rompimentos ou da lâmina da não-correspondência. Nenhuma paixão fere no começo. Ao contrário. No começo, há o êxtase. O olho brilhando. O riso bobo que aparece involuntariamente. O frio na barriga. A sensação constante de que se pode explodir a qualquer momento, de tanta felicidade. Ao que me conste, isso está longe, muito longe, de ser a pior coisa do mundo. Quando se machuca, a gente passa a viver numa briga interna para esquecer de tudo isso, porque lembrar dói como um dedo teimoso e cruel bem dentro da ferida. No entanto, não são as lembranças boas que machucam, mas sim a impossibilidade de revivê-las. As boas lembranças, assim como a paixão - talvez por serem produto dela -, também são inocentes.
Mas junto às maravilhas, no pacote da paixão vem também o risco, um acompanhamento que não pode ser retirado do combo. Nunca há garantias, nem mesmo quando mais parece o contrário. Apaixonar-se é pagar para ver sem ter a menor desconfiança do que se verá. É sempre pular de cabeça, desconhecendo a profundidade. Às vezes a gente mergulha em pessoas rasas e se estrepa. Às vezes a gente mergulha em pessoas fundas, confusas e tortuosas demais, e se afoga. Coisas que a gente só sabe depois que pula. Nunca se sabe o quanto se pode estar perdendo ao ficar preso à borda por medo. Há que se pagar o preço.
Se apaixonar é encantar-se pela água e ir. É a melhor coisa do mundo. E possivelmente, a mais cara.

♫ Laila Garin e A Roda - Não Me Arrependo

Comentários

Postagens mais visitadas